Proprietários de veículos movidos a célula de combustível de hidrogênio (FCEVs) estão tomando medidas legais drásticas, movendo uma ação judicial contra a Toyota Motor Corporation e o Estado da Califórnia. A ação coletiva alega “abandono” e falha em cumprir as promessas de uma rede de abastecimento viável, levando a custos exorbitantes, longas filas e uma infraestrutura de postos de hidrogênio deplorável.
Quando a Toyota lançou o Mirai, seu veículo de célula de combustível a hidrogênio, a promessa era audaciosa: um futuro automotivo sem emissões, combinando a conveniência do reabastecimento rápido, semelhante à gasolina, com a ecologia dos veículos elétricos. Incentivos fiscais significativos e subsídios do Estado da Califórnia tornaram a compra atraente, e muitos consumidores, apostando na tecnologia de ponta, investiram nos caros Mirai. A visão era um ecossistema completo, onde o hidrogênio seria tão acessível quanto a eletricidade para carros elétricos ou a gasolina para veículos convencionais.
No entanto, a realidade se mostrou dramaticamente diferente para esses pioneiros. A infraestrutura de abastecimento de hidrogênio na Califórnia, que é o principal mercado para esses veículos nos EUA, falhou em acompanhar o crescimento da frota. A ação judicial destaca uma série de problemas críticos:
* **Escassez de Postos:** Muitos proprietários se deparam com a inexistência de postos em suas rotas diárias ou em viagens, limitando severamente a usabilidade de seus veículos. A rede prometida simplesmente não se materializou na escala necessária.
* **Postos Fora de Serviço:** Os poucos postos existentes são frequentemente afetados por falhas técnicas, manutenção prolongada ou falta de combustível, tornando o abastecimento uma loteria e resultando em longas esperas. Um proprietário relatou passar horas ou até dias tentando encontrar um posto funcional.
* **Filas Demoradas:** A combinação de poucos postos e alta demanda (ou a necessidade de encontrar um posto que funcione) leva a filas exorbitantes, transformando uma rápida parada de 5 minutos em uma espera de horas, ou até forçando os motoristas a fazerem viagens de centenas de quilômetros apenas para abastecer.
* **Custos Proibitivos:** O preço do hidrogênio disparou nos últimos anos. O que antes era comparável à gasolina, agora pode custar o dobro ou o triplo por quilômetro rodado, transformando a economia de um veículo de emissão zero em uma despesa insustentável.
Os proprietários alegam que a Toyota e a Califórnia falharam em suas responsabilidades. A Toyota, por promover agressivamente a tecnologia e vender veículos sem garantir que a infraestrutura essencial estaria disponível e funcional. A Califórnia, por não fiscalizar e garantir que os fundos e planos para a expansão da rede de abastecimento fossem efetivamente implementados, dada sua meta ambiciosa de liderar a transição para veículos de emissão zero.
A ação coletiva busca compensação por perdas financeiras significativas, incluindo o alto custo de propriedade e operação dos veículos, o tempo perdido no abastecimento e a desvalorização inesperada dos Mirai, que se tornaram quase inviáveis de usar. Muitos proprietários se sentem presos a um veículo caro e impraticável, sem solução à vista.
Este processo ressalta os desafios inerentes à implantação de novas tecnologias automotivas que dependem de uma infraestrutura robusta. Enquanto os veículos elétricos a bateria ganham força com uma rede de carregamento em rápida expansão, o hidrogênio enfrenta um caminho muito mais difícil. A falta de investimento consistente e o fracasso em manter as promessas iniciais colocam em xeque o futuro do hidrogênio como uma alternativa viável para o transporte de passageiros, pelo menos no curto a médio prazo. A confiança do consumidor foi abalada, e o resultado desta ação judicial pode ter implicações duradouras para a estratégia de veículos de emissão zero da Toyota e para o papel do hidrogênio no cenário automotivo global.