A unidade fabril da Great Wall Motor (GWM) em Iracemápolis, interior de São Paulo, representa um marco significativo na estratégia global da montadora chinesa e, em particular, em sua ambiciosa jornada no mercado brasileiro. Distanciando-se do modelo de importação de kits pré-montados, conhecido como CKD (Completely Knocked Down), a planta já inicia suas operações com um regime de produção que incorpora um nível substancialmente maior de nacionalização de processos. Este movimento estratégico visa não apenas otimizar custos e logística, mas também solidificar o compromisso da GWM com o desenvolvimento da indústria automotiva local.
O conceito de CKD, embora útil para uma entrada rápida no mercado, geralmente envolve a montagem final de veículos a partir de grandes módulos e componentes importados, com pouca ou nenhuma fabricação local de peças. Contudo, em Iracemápolis, a abordagem é distinta. Desde o princípio, a GWM está implementando processos de fabricação mais complexos e intensivos em mão de obra local, superando a mera montagem. Isso inclui, por exemplo, etapas de soldagem e pintura, que são fundamentais para a estrutura do veículo e a qualidade do acabamento, e que demandam investimentos significativos em infraestrutura e treinamento de equipes.
A estratégia de nacionalização da GWM é progressiva e ambiciosa. A empresa anunciou que, até o final do ano, uma parcela crescente de peças e componentes será fornecida por fabricantes brasileiros. Este compromisso vai além das expectativas iniciais para uma nova operação no país e reflete uma visão de longo prazo. A busca por fornecedores locais abrange desde componentes menores, como chicotes elétricos e itens de acabamento interno, até partes mais complexas do sistema veicular, promovendo um ecossistema industrial robusto.
Os benefícios dessa abordagem multifacetada são vastos. Primeiramente, a nacionalização de processos e peças resulta em uma significativa redução de custos operacionais. Ao diminuir a dependência de importações, a GWM se protege das flutuações cambiais e das tarifas de importação, além de otimizar a cadeia logística, tornando-a mais ágil e menos suscetível a interrupções globais. Em segundo lugar, e de forma crucial, este modelo de produção contribui diretamente para a economia brasileira. A demanda por fornecedores locais estimula a criação de empregos, o desenvolvimento tecnológico em empresas parceiras e a atração de novos investimentos no parque industrial do país.
Além dos ganhos econômicos e operacionais, a nacionalização reforça a competitividade dos veículos da GWM no mercado nacional. Preços mais acessíveis e a capacidade de adaptar os veículos às preferências e às condições locais tornam os produtos mais atraentes para os consumidores brasileiros. A GWM também se beneficia de programas de incentivo governamentais que favorecem empresas com maior índice de conteúdo local, alinhando-se às políticas industriais do Brasil.
O desafio reside em garantir que os fornecedores nacionais atendam aos rigorosos padrões de qualidade e inovação exigidos pela GWM, um processo que envolve estreita colaboração e, por vezes, a transferência de tecnologia. No entanto, a visão da montadora é clara: Iracemápolis deve se tornar não apenas uma base de produção para o Brasil, mas também um hub estratégico para exportação na América Latina, impulsionando ainda mais a economia regional e global. Com esta iniciativa, a GWM solidifica sua posição como um player comprometido e integrado ao cenário automotivo brasileiro, redefinindo o patamar de nacionalização para novas entrantes e pavimentando o caminho para um futuro de crescimento sustentável.