De ‘The Ultimate Driving Machine’ a ‘Sheer Driving Pleasure’, os slogans icónicos da BMW sempre foram sobre a alegria que se pode extrair dos seus carros ao volante. E, embora a empresa produza agora muitos carros que se focam mais no luxo e na tecnologia do que na dinâmica de condução líder da classe, ainda é um pilar fundamental da sua identidade. Este paradoxo é especialmente evidente na sua gama de SUVs, ou “Sports Activity Vehicles” (SAVs), como a BMW gosta de os chamar, que procuram conciliar a versatilidade de um utilitário com a performance e o requinte esperados de um BMW.
A notícia de que a BMW está a planear versões off-road mais robustas para os seus SUVs, como o X5 e o X7, é um testemunho da evolução do mercado e da necessidade de as marcas se adaptarem. Numa era onde a aventura e a capacidade de enfrentar terrenos desafiadores ganham cada vez mais adeptos – evidenciado pelo sucesso de modelos como o Land Rover Defender, o Mercedes-Benz Classe G e o crescente interesse em veículos com ADN de aventura – a BMW não pode ficar para trás. No entanto, esta incursão num território mais selvagem não está isenta de riscos, e a marca bávara deve aprender com os erros do passado para garantir que as suas futuras propostas off-road sejam autênticas e bem-sucedidas.
Um olhar para a história do BMW X3, por exemplo, oferece lições valiosas. As primeiras gerações do X3, embora inovadoras para a época, foram muitas vezes criticadas por não conseguirem equilibrar plenamente a promessa de um SUV premium com a agilidade de um BMW. Alguns consideravam a sua suspensão demasiado firme para o conforto esperado num veículo familiar, enquanto a sua capacidade off-road, embora presente, não era o suficiente para o destacar num segmento cada vez mais competitivo. Houve uma percepção de que tentava ser várias coisas ao mesmo tempo – um carro desportivo, um luxuoso familiar, um veículo de aventura – mas sem se destacar claramente em nenhuma delas, resultando num compromisso que não agradou a todos. A estética e a percepção de valor também foram pontos de discórdia em certos mercados.
Para que as futuras versões off-road da BMW sejam um sucesso, a empresa terá de ir além da mera aplicação de proteções plásticas e pneus mais robustos. Será necessário um desenvolvimento de engenharia sério para garantir que estes veículos ofereçam uma capacidade off-road genuína, com sistemas de tração integral avançados, maior altura ao solo, e modos de condução específicos para diversos terrenos. Mas, crucialmente, eles terão de manter o “prazer de condução” que é sinónimo da marca. Não basta ser capaz de subir uma montanha; a viagem até lá e o regresso devem ser igualmente recompensadores, com uma direção precisa, um controlo refinado e uma sensação de ligação à estrada (ou ao trilho) que só um BMW pode proporcionar.
A BMW precisa de definir claramente o propósito e o público-alvo para estes novos modelos. Serão concorrentes diretos dos mais extremos aventureiros, ou uma opção mais “premium” e sofisticada para quem procura capacidade fora de estrada sem sacrificar o luxo e o desempenho em asfalto? A distinção é vital. Evitar os erros do X3 significa não comprometer a essência do que torna um BMW especial em busca de um nicho. Significa construir veículos que, embora capazes de ir para fora da estrada, ainda se sintam fundamentalmente como um BMW – dinâmicos, bem construídos e gratificantes de conduzir. Se conseguirem isso, as versões off-road dos SUVs da BMW poderão abrir um capítulo emocionante e bem-sucedido na rica história da marca.