Os motores de cinco cilindros em linha existem desde os anos 30, mas foi somente na década de 70 que eles começaram a realmente mostrar seu potencial e ganhar destaque. Essa virada é em grande parte atribuída ao lançamento do Mercedes-Benz 240D 3.0 de 1974 (conhecido como 300D nos EUA), que marcou um ponto de inflexão na história automotiva. Este veículo não foi apenas o primeiro carro de passageiros com motor de cinco cilindros em linha produzido em massa no mundo, mas também o pioneiro entre os motores diesel com essa configuração. A Mercedes-Benz demonstrou a viabilidade e a eficiência de um motor que combinava o melhor de dois mundos: a suavidade de um seis cilindros com a economia e a compacidade de um quatro cilindros.
A configuração de cinco cilindros em linha oferece uma série de vantagens técnicas. Comparado a um motor de quatro cilindros, ele proporciona um funcionamento inerentemente mais suave devido ao seu espaçamento de ignição mais uniforme. Enquanto um quatro cilindros tem uma ignição a cada 180 graus, resultando em vibrações secundárias, um cinco cilindros possui uma ignição a cada 144 graus, o que o aproxima da suavidade de um seis cilindros, que dispara a cada 120 graus. Ao mesmo tempo, ele é mais compacto e leve que um seis cilindros, permitindo uma melhor distribuição de peso e um menor consumo de combustível. Para um motor diesel, onde o torque é crucial, os cinco cilindros oferecem uma excelente curva de torque em baixas rotações, ideal para o uso diário e para veículos mais pesados.
No entanto, foi a Audi que catapultou o motor de cinco cilindros em linha para o panteão dos motores de performance. Em 1976, a Audi apresentou seu primeiro motor a gasolina de cinco cilindros no Audi 100 5E. Este motor, desenvolvido sob a liderança de pessoas como Ferdinand Piëch, era um 2.1 litros injetado eletronicamente que entregava 136 cavalos de potência, uma cifra impressionante para a época. A Audi viu o potencial de combinar a compacidade do motor com a possibilidade de turboalimentação, criando uma base para inovações futuras.
O verdadeiro legado do motor de cinco cilindros da Audi começou com o icônico Audi Quattro de 1980. Equipado com um motor turboalimentado de 2.1 litros e cinco cilindros, o Quattro redefiniu o conceito de carros de rally e de performance de rua. Com seus 200 cavalos de potência e a lendária tração integral quattro, ele dominou o Campeonato Mundial de Rally, provando a robustez e o poder dessa configuração de motor. O som distinto e gutural do cinco cilindros turboalimentado tornou-se uma marca registrada dos veículos de performance da Audi.
Ao longo das décadas, a Audi continuou a aprimorar e a utilizar seus motores de cinco cilindros em uma variedade de modelos de alta performance, incluindo o RS 2 Avant, o S2, o Audi Sport Quattro (com uma versão ainda mais potente do motor), e mais recentemente, os aclamados RS3 e TT RS. Estes motores modernos, como o 2.5 TFSI turboalimentado, produzem mais de 400 cavalos de potência, combinando aceleração brutal com o som inconfundível que remete aos seus ancestrais de rally. O trabalho pioneiro de seus criadores não apenas estabeleceu a viabilidade do motor de cinco cilindros, mas também moldou fundamentalmente a identidade da Audi como fabricante de veículos de alta performance.
Embora a Audi seja a mais conhecida por popularizar o cinco cilindros, outras montadoras também exploraram essa configuração. A Volvo utilizou-o extensivamente em seus modelos durante os anos 90 e 2000, tanto em versões aspiradas quanto turboalimentadas, conhecidas por sua durabilidade e linearidade. A Volkswagen também empregou motores de cinco cilindros, especialmente no mercado norte-americano. Contudo, a tendência geral da indústria de motores modulares e a crescente popularidade dos V6 compactos levaram a uma diminuição no uso do cinco cilindros em linha.
No entanto, graças ao compromisso da Audi, o motor de cinco cilindros experimentou um glorioso ressurgimento em veículos de nicho e de alta performance. O seu equilíbrio único de performance, som e características de entrega de potência continua a atrair entusiastas e a inspirar engenheiros. A resiliência e a evolução contínua deste motor demonstram que, mesmo após 50 anos desde sua popularização em massa e com um legado que começou na Mercedes-Benz e foi elevado ao estrelato pela Audi, o conceito de cinco cilindros ainda tem um lugar vital na engenharia automotiva moderna, especialmente no segmento de carros esportivos e de performance.