Carro Elétrico
Carro Elétrico

BYD e Chery fraudaram fundos de investimento do governo chinês

A indústria automotiva chinesa, vista há anos como um pilar da inovação tecnológica e um motor de crescimento econômico, encontra-se agora sob um escrutínio sem precedentes. Uma auditoria abrangente, conduzida pelo Ministério da Indústria e Tecnologia (MIIT), revelou um esquema sofisticado e generalizado de apropriação fraudulenta de subsídios por parte de diversas montadoras. O choque é palpável, especialmente considerando os vultosos investimentos estatais destinados a impulsionar a transição para veículos de nova energia (NEVs) e fortalecer a competitividade global.

As descobertas iniciais da auditoria, que se estendeu por vários meses e envolveu a análise minuciosa de registros financeiros, relatórios de produção e dados de vendas, pintam um quadro sombrio de desonestidade e conluio. Em vez de utilizar os incentivos governamentais para fomentar a pesquisa e desenvolvimento genuínos, expandir a capacidade de produção de forma sustentável ou reduzir os custos para os consumidores, algumas das mais proeminentes empresas do setor teriam orquestrado mecanismos elaborados para desviar esses fundos.

Entre as táticas identificadas, destacam-se a inflação artificial de números de produção, a declaração de veículos nunca fabricados ou vendidos, e até mesmo a criação de empresas de fachada para canalizar os subsídios. Relatórios indicam que algumas montadoras teriam registrado veículos como “vendidos” a subsidiárias ou empresas parceiras, apenas para reavê-los posteriormente, garantindo assim o subsídio sem uma transação de mercado real. Outras teriam exagerado as capacidades tecnológicas de seus veículos ou as taxas de utilização de energias renováveis para se qualificarem para níveis mais altos de apoio financeiro.

Os subsídios em questão abrangem uma ampla gama de incentivos, desde dotações diretas para a pesquisa e desenvolvimento de baterias e tecnologias de propulsão elétrica, até reembolsos baseados no volume de vendas de NEVs e incentivos fiscais para a instalação de infraestrutura de carregamento. O objetivo do governo era claro: catapultar a China para a liderança mundial na fabricação de veículos elétricos. No entanto, a falha na fiscalização permitiu que alguns atores se aproveitassem do sistema.

A dimensão da fraude é impressionante. Estimativas preliminares sugerem que centenas de milhões, senão bilhões, de yuans em fundos públicos podem ter sido desviados. Este roubo não apenas representa uma perda colossal para o tesouro público, mas também distorce a dinâmica do mercado, criando uma concorrência desleal para as empresas que operam de forma legítima e minando a confiança do público e dos investidores no setor. Além disso, a reputação da indústria automotiva chinesa, que busca cada vez mais expandir sua presença global, sofre um golpe significativo.

A revelação deste esquema fraudulento desencadeou uma onda de investigações mais aprofundadas. O Ministério da Indústria e Tecnologia, juntamente com outras agências reguladoras, prometeu tomar medidas rigorosas contra os responsáveis, incluindo multas pesadas, a revogação de licenças e, em casos mais graves, processos criminais. Há também um chamado urgente para a revisão e o endurecimento dos mecanismos de controle e fiscalização dos subsídios, a fim de evitar futuras fraudes.

Este escândalo serve como um lembrete contundente dos desafios inerentes à gestão de programas de subsídios em larga escala. Embora o apoio governamental seja crucial para o desenvolvimento de indústrias emergentes e estratégicas, a falta de transparência e de mecanismos de auditoria robustos pode abrir portas para abusos. Para a China, que busca consolidar sua posição como líder global em veículos de nova energia, restaurar a integridade e a confiança no setor automotivo é agora uma prioridade máxima. A limpeza será longa e complexa, mas é essencial para garantir um crescimento sustentável e ético.