Nos efervescentes anos 70, quando a indústria automotiva brasileira buscava sua identidade, surgiu uma promessa audaciosa: o IBAP Democrata. Anunciado como o carro nacional mais avançado de sua época, este esportivo de linhas arrojadas capturou a imaginação de entusiastas e investidores, prometendo desempenho, luxo e um design que rivalizava com os melhores modelos europeus. Contudo, o que parecia ser o alvorecer de uma nova era para o design e engenharia automotiva brasileira transformou-se em um dos maiores escândalos de fraude da história do país.
A Indústria Brasileira de Automóveis Presidente (IBAP), capitaneada por Alfredo Peixoto, apresentou o Democrata ao público com grande pompa. Folhetos brilhantes e reportagens em revistas especializadas detalhavam um carro com motor V8 do Ford Galaxie, carroceria de fibra de vidro, acabamento sofisticado e um interior que exalava esportividade e requinte. A ideia era clara: oferecer um GT de alto desempenho, com um toque nacional, a um preço competitivo. O marketing agressivo e a visão de um carro nacional de ponta atraíram centenas de compradores, que prontamente depositaram adiantamentos substanciais, sonhando em ter um exemplar do Democrata em suas garagens.
A expectativa era imensa. Showrooms foram montados, protótipos (alguns deles meras maquetes ou veículos montados apressadamente com peças de outros carros) foram exibidos, e prazos de entrega foram estabelecidos. A promessa era de uma produção em larga escala, mas os meses se passaram, e os carros nunca apareciam. As entregas eram constantemente adiadas, as justificativas se tornavam cada vez mais esfarrapadas, e a fábrica, que deveria estar em plena operação, mostrava-se inexistente ou em um estágio rudimentar de construção. A desconfiança começou a tomar conta dos investidores e compradores.
A verdade, dolorosa e chocante, veio à tona: o IBAP Democrata não era um projeto automotivo viável, mas sim um elaborado esquema de pirâmide ou fraude. O dinheiro dos novos compradores era supostamente utilizado para “financiar” as fases iniciais ou, mais provavelmente, desviar para os bolsos dos idealizadores. Não havia capacidade real de produção, nem engenharia sólida por trás da ambição. O “carro” era uma fachada, uma isca para atrair capital.
Quando as autoridades finalmente intervieram, Alfredo Peixoto e outros envolvidos desapareceram, deixando para trás centenas de vítimas lesadas e um rastro de frustração e perdas financeiras. A polícia iniciou uma investigação que revelou a magnitude da fraude, marcando o Democrata não como um ícone automotivo, mas como um símbolo de promessas não cumpridas e de ingenuidade explorada.
Pouquíssimos exemplares do Democrata, ou o que se passava por eles, sobreviveram – em geral, são carros incompletos ou montados de forma precária, evidenciando a farsa. A trajetória do IBAP Democrata serve como um lembrete sombrio de que, por trás de grandes sonhos e marketing persuasivo, pode haver uma realidade de engano e oportunismo. O carro que seria o mais avançado de sua época nunca saiu do papel para as ruas em produção, permanecendo como um capítulo infeliz na história da indústria automotiva brasileira, um caso de polícia que assombrou centenas e manchou a imagem de inovações prometidas.