Recalls de veículos são mais ou menos típicos, como airbags defeituosos, riscos de incêndio ou bugs de software que escaparam do desenvolvimento. Mas depois, há os casos bizarros. Ao longo dos anos, fabricantes fizeram recalls de carros porque aranhas construíram teias em linhas de combustível, etiquetas usavam o tamanho de fonte errado, ou tapetes…
…que se prendiam ao acelerador, causando aceleração involuntária. Esses são os recalls que fazem você coçar a cabeça e se perguntar: ‘Como isso sequer foi possível?’ Enquanto os recalls padrão geralmente abordam falhas de segurança óbvias e críticas, como sistemas de freio que falham ou cintos de segurança que não funcionam corretamente, os ‘estranhos’ destacam a complexidade da fabricação automotiva e as inúmeras variáveis que podem levar a um problema.
Tomemos o caso das aranhas, por exemplo. Em 2013, a Mazda precisou recolher mais de 42.000 veículos Mazda6 nos Estados Unidos porque uma espécie de aranha, a vespa-amarela, era atraída por um componente do sistema de ventilação do tanque de combustível. As teias que elas construíam podiam bloquear essa linha, criando pressão negativa no tanque e, potencialmente, levando a rachaduras ou vazamentos, o que aumentava o risco de incêndio. Embora a probabilidade fosse baixa, a questão era real e peculiar o suficiente para garantir um recall. Isso não é algo que os engenheiros de design geralmente consideram em seus planos de teste.
Outro exemplo curioso envolveu rótulos. Em 2014, a Chrysler (agora parte da Stellantis) recolheu um grande número de veículos, incluindo modelos Jeep Wrangler e Dodge Grand Caravan, porque as etiquetas de informação de pneus não estavam em conformidade com os regulamentos federais. A fonte usada para o peso de carga máxima era muito pequena. Embora não fosse um risco direto à segurança no sentido tradicional – o veículo não iria explodir nem os freios iriam falhar – a não conformidade com as normas regulatórias é uma base válida para um recall. É um detalhe minúsculo que, de alguma forma, escapou a várias camadas de inspeção.
E os tapetes do carro? Em 2009 e 2010, a Toyota enfrentou uma crise massiva com recalls de milhões de veículos devido a problemas de ‘aceleração involuntária’, sendo um dos principais culpados os tapetes que podiam escorregar e prender o pedal do acelerador. Este foi um problema de segurança muito sério, mas a causa raiz – um tapete mal projetado ou posicionado – é um exemplo de algo aparentemente trivial que teve consequências catastróficas. Não era um componente de alta tecnologia, mas um item básico que se tornou perigoso.
Além desses, houve recalls por motivos ainda mais inusitados. Houve casos de parafusos soltos em painéis solares que poderiam cair na estrada, alarmes de baixa pressão dos pneus que não funcionavam a temperaturas muito frias, ou até mesmo um recall de carros elétricos onde o manual do proprietário tinha informações incorretas sobre o alcance do veículo em determinadas condições. Embora não fossem riscos diretos à segurança física, as imprecisões no manual poderiam levar a motoristas ficarem sem carga em locais perigosos.
Esses exemplos sublinham que a qualidade e a segurança automotiva são um mosaico de componentes complexos, eletrônicos sofisticados e até os detalhes mais mundanos, como um pedaço de carpete ou uma aranha. Cada um desses elementos tem o potencial de causar um problema, seja ele um risco de incêndio, um mau funcionamento mecânico, ou uma simples falha regulatória. E a natureza dessas falhas pode ser tão imprevisível quanto a própria vida.
A indústria automobilística gasta bilhões em controle de qualidade, testes e validação, mas a vastidão de peças e processos, combinada com a imprevisibilidade do ambiente real (e da vida selvagem), significa que o ‘recall estranho’ provavelmente nunca desaparecerá. Eles servem como lembretes humildes de que, mesmo com toda a engenharia avançada, a simplicidade de uma teia de aranha ou o tamanho de uma fonte podem levar a uma dor de cabeça para um fabricante global.