IPVA para carros antigos: economia ou armadilha?

A recente aprovação pela Câmara dos Deputados da isenção do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) para carros com 20 anos ou mais gerou grande alvoroço entre proprietários e potenciais compradores. À primeira vista, a medida parece uma excelente notícia, prometendo alívio financeiro significativo. No entanto, mergulhar nos detalhes revela que o fim da cobrança do IPVA pode ser uma faca de dois gumes, com o potencial de fazer você tanto economizar quanto, paradoxalmente, perder dinheiro.

A principal vantagem é óbvia: a eliminação de um gasto anual que, dependendo do valor venal do veículo, pode representar centenas ou até milhares de reais. Para muitos, a perspectiva de não ter mais que arcar com essa despesa é um forte incentivo para manter um carro antigo ou até mesmo adquirir um. A isenção pode tornar a posse de um veículo mais acessível, especialmente para aqueles que o utilizam esporadicamente ou como segundo carro.

Contudo, a economia do IPVA é apenas a ponta do iceberg. O custo de possuir um veículo vai muito além do imposto. Carros com 20 anos ou mais, por sua própria natureza, tendem a exigir uma manutenção muito mais frequente e cara. Peças originais podem ser difíceis de encontrar, exigindo importação ou adaptações, elevando o custo dos reparos. Além disso, a tecnologia mais antiga dos motores geralmente resulta em menor eficiência de combustível. Um carro mais velho pode consumir bem mais gasolina ou etanol por quilômetro rodado do que um modelo mais novo e tecnológico, corroendo rapidamente a economia obtida com a isenção do IPVA.

Outro ponto crucial é o seguro. Enquanto carros antigos podem ter um valor de mercado baixo, o que teoricamente reduziria o custo do seguro, muitas seguradoras hesitam em cobrir veículos muito velhos ou cobram prêmios mais altos devido à maior probabilidade de falhas mecânicas e à dificuldade de reposição de peças em caso de sinistro. Há também a questão da segurança: veículos de duas décadas atrás carecem de muitos dos recursos de segurança passiva e ativa presentes nos carros modernos, como múltiplos airbags, ABS e controle de estabilidade, o que pode representar um risco maior em caso de acidente.

A ideia de que um carro antigo necessariamente se valoriza como “clássico” é um equívoco para a vasta maioria dos veículos. Apenas uma pequena parcela de modelos específicos, em excelente estado de conservação e com histórico relevante, alcança o status de colecionável, com valorização no mercado. A esmagadora maioria dos carros com 20 anos ou mais continua a se desvalorizar, e investir pesadamente em sua manutenção pode ser um “dinheiro perdido” se o objetivo for uma revenda lucrativa.

Finalmente, considere as restrições ambientais. Em grandes centros urbanos ao redor do mundo, e potencialmente no Brasil no futuro, veículos mais antigos e poluentes podem enfrentar restrições de circulação, como zonas de baixa emissão. Isso poderia limitar a utilidade do seu “carro sem IPVA” e transformá-lo em um peso.

Em resumo, a isenção do IPVA é, sem dúvida, um atrativo. Mas antes de se empolgar com a economia imediata, é fundamental realizar uma análise detalhada do custo total de propriedade. Um carro antigo pode ser uma paixão, um projeto ou uma solução econômica para necessidades muito específicas. No entanto, para o uso diário, os custos ocultos de manutenção, combustível, seguro e a falta de segurança e tecnologia moderna podem facilmente superar a vantagem de não pagar o imposto, transformando a aparente economia em um verdadeiro prejuízo financeiro. A decisão exige ponderação, pesquisa e um bom planejamento.