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Jeep Renegade: fim global, mas forte no Brasil. Qual o futuro?

O Jeep Renegade, um dos SUVs compactos mais icônicos e bem-sucedidos das últimas décadas, encontra-se em uma encruzilhada global. Enquanto sua jornada chega ao fim em mercados cruciais como a China e a Europa, no Brasil, o modelo desafia a lógica, mantendo-se como um dos veículos mais vendidos e desejados do segmento. Essa dicotomia levanta questões importantes sobre seu futuro e a estratégia da Jeep em diferentes regiões do mundo.

A saída de linha do Renegade na China foi um movimento observado há algum tempo, refletindo a rápida evolução e a intensa competição no maior mercado automotivo do mundo, onde SUVs eletrificados e de marcas locais ganharam forte tração. A produção chinesa, parte de uma joint venture com a GAC, não conseguiu manter o ritmo diante de um cenário em constante mutação.

Mais recentemente, foi a vez da Europa dar adeus ao Renegade. A interrupção da produção para o continente europeu, especialmente para os mercados do Reino Unido e da Europa continental, não foi apenas uma questão de vendas em declínio, mas também uma resposta às crescentes e rigorosas normas de emissões, que tornam os veículos a combustão cada vez mais caros de produzir e vender, e à preferência dos consumidores por opções mais eletrificadas ou modelos maiores. A estratégia da Stellantis na Europa tem se voltado cada vez mais para a eletrificação e para a consolidação de portfólios mais enxutos e alinhados com as metas ambientais.

No entanto, o cenário brasileiro para o Jeep Renegade é diametralmente oposto. Lançado por aqui em 2015, o Renegade foi um dos pioneiros e principais catalisadores do boom dos SUVs compactos no país. Ele conquistou o público não apenas por seu design robusto e autêntico, que remete à tradição Jeep, mas também por sua versatilidade, bom acabamento interno e, por muito tempo, a oferta de uma gama de motores que incluía opções a diesel e tração 4×4, algo raro no segmento. A chegada do motor 1.3 turbo flex em 2021 revigorou suas vendas, oferecendo performance e eficiência competitivas.

Apesar de uma concorrência cada vez mais acirrada, com novos modelos e versões surgindo constantemente, o Renegade mantém uma base de fãs leal e números de vendas invejáveis. Em grande parte, isso se deve ao forte reconhecimento da marca Jeep no Brasil, associada a aventura, durabilidade e status. Além disso, a produção local em Goiana (PE) permite um custo mais competitivo e uma adaptação às demandas do mercado nacional.

Mas, até quando essa boa fase pode durar? O futuro do Renegade no Brasil, embora promissor a curto e médio prazo, enfrenta desafios. A eletrificação é uma realidade iminente e o Renegade, em sua forma atual, terá que se adaptar. Embora já exista uma versão híbrida plug-in 4xe na Europa (que não é produzida no Brasil), a transição para modelos eletrificados ou híbridos flex fabricados localmente será crucial para sua longevidade.

A Stellantis tem planos ambiciosos para a região, e o complexo de Goiana é estratégico. Se o Renegade continuará a ser um pilar dessa estratégia ou se dará lugar a um sucessor (talvez totalmente eletrificado ou um híbrido mais acessível) é a grande questão. A marca pode optar por uma renovação profunda, um “all-new” Renegade adaptado às futuras normas e preferências, ou redirecionar seus esforços para outros modelos que se encaixem melhor na visão global de eletrificação e sustentabilidade.

Em suma, o Jeep Renegade vive um paradoxo: um modelo globalmente em declínio, mas um campeão inconteste no Brasil. Sua resiliência no mercado sul-americano é um testemunho de seu apelo e da forte ligação da marca com os consumidores brasileiros. O desafio agora é transformar esse sucesso localizado em uma estratégia de longo prazo que o alinhe com as tendências globais da indústria automotiva, garantindo que o espírito aventureiro do Renegade continue a rodar pelas estradas brasileiras.