Para muitos, a paixão por carros é um hobby. Para o jornalista automotivo, essa paixão transcendeu o lazer para se tornar o epicentro de uma carreira vibrante, com o lendário Autódromo de Interlagos como palco principal. Desde o cheiro de borracha queimada e gasolina de alta octanagem até o rugido ensurdecedor dos motores, cada detalhe em Interlagos se traduzia em palavras, desafios e memórias inesquecíveis.
A jornada começou cedo, com o fascínio por miniaturas e as transmissões de Fórmula 1 dominando os domingos. Esse encantamento infantil naturalmente evoluiu para o desejo de não apenas consumir o universo automotivo, mas de contá-lo. Foi assim que a caneta e o bloco de notas se tornaram extensões da paixão por motores, pavimentando o caminho para o jornalismo especializado.
Interlagos, para o jornalista, nunca foi apenas uma pista. Era um templo. Cada visita era uma peregrinação, cada curva uma história esperando para ser desvendada. Das arquibancadas lotadas acompanhando as vitórias de Ayrton Senna na juventude, às credenciais que lhe permitiam o acesso aos boxes e às áreas restritas, a relação com o autódromo paulista se aprofundava a cada evento.
As reportagens em Interlagos eram variadas e intensas. Havia a cobertura da Fórmula 1, onde a pressão do tempo se misturava à adrenalina de estar no epicentro do automobilismo mundial. Horas a fio em coletivas de imprensa, entrevistas com pilotos e chefes de equipe, e a constante busca pelo ângulo único que daria vida à matéria. Mas não era apenas a F1 que pulsava ali. A Stock Car, as corridas de endurance, os campeonatos de motovelocidade – cada um oferecia uma trama distinta, exigindo do jornalista um olhar atento para o drama humano e a engenharia por trás da velocidade.
Um dos maiores desafios era traduzir a experiência física da velocidade para o papel. Como descrever a força G em uma curva de alta ou a sensação de frenagem brusca? O jornalista dedicou-se a testar os próprios limites, seja em voltas rápidas com carros de rua de alta performance em track days ou em caronas em carros de corrida. Essas experiências, embora raras e controladas, eram cruciais para a autenticidade de suas matérias, permitindo-lhe falar com propriedade sobre a dinâmica veicular e a exigência física e mental dos pilotos.
As memórias são muitas: o silêncio respeitoso que antecedia a largada de uma corrida importante, o burburinho elétrico dos engenheiros antes de uma qualificação decisiva, o encontro inesperado com um ídolo da infância no paddock. Houve também os desafios técnicos – entender as sutilezas da aerodinâmica ou a estratégia de boxes – e a necessidade de se manter atualizado em um campo em constante evolução.
Mas, acima de tudo, o jornalista lembra-se da paixão compartilhada. Interlagos é um caldeirão de emoções, onde fãs, pilotos, mecânicos e jornalistas se unem por um amor comum. As reportagens do jornalista não eram apenas informativas; eram pontes que conectavam esse universo fascinante ao leitor, permitindo que a emoção das pistas chegasse a cada lar.
Hoje, mesmo que a velocidade da rotina tenha mudado, a chama permanece acesa. As lembranças das tardes quentes em Interlagos, do cheiro inconfundível do asfalto, e do som que ecoa pela cidade, continuam a inspirar. A paixão por carros e a arte de escrever sobre eles, especialmente quando vividas no icônico circuito, formam um legado de experiências e histórias que merecem ser contadas.