Mino Carta, uma figura imponente e inovadora no jornalismo brasileiro, deixou um legado indelével que moldou a paisagem da mídia nacional por décadas. Sua trajetória foi marcada pela fundação e direção de algumas das mais influentes publicações do país, demonstrando uma visão aguda e uma busca incansável por um jornalismo de qualidade e, muitas vezes, combativo.
A incursão de Carta no universo editorial começou com um marco fundamental: a criação da revista Quatro Rodas. Em uma época em que o mercado automobilístico ganhava força no Brasil, Mino Carta identificou a necessidade de uma publicação especializada. Como um dos idealizadores, ele ajudou a estabelecer os padrões para o jornalismo automotivo, combinando rigor técnico com linguagem acessível, transformando a Quatro Rodas rapidamente em referência para entusiastas e profissionais do setor. Sua contribuição foi crucial para definir a identidade de uma revista que perdura até hoje.
Contudo, a ambição jornalística de Mino Carta transcendia o nicho automotivo. Ele se tornou uma força motriz na imprensa diária e semanal, sendo instrumental no lançamento de veículos que redefiniriam a forma como os brasileiros consumiam notícias.
Um de seus primeiros grandes sucessos foi o Jornal da Tarde. Lançado em 1966, o “JT” sob a batuta de Carta inovou ao introduzir um design gráfico arrojado e uma abordagem noticiosa mais interpretativa e visualmente atraente, distanciando-se do tradicionalismo dos diários da época. Ele transformou a maneira como as informações eram apresentadas, valorizando a fotografia e reportagens aprofundadas, criando um novo paradigma para os jornais vespertinos e influenciando toda uma geração de editores.
Pouco depois, em 1968, Mino Carta participou ativamente da concepção e fundação da revista Veja. Sua visão foi essencial para estabelecer a Veja como a principal revista semanal de notícias do Brasil. Ele a idealizou como um semanário que combinaria a agilidade da notícia com a profundidade da análise, formato pouco explorado em grande escala. Sob sua liderança inicial, a Veja rapidamente se consolidou, tornando-se um ícone da imprensa brasileira e um espelho das transformações sociais e políticas do período, definindo o padrão para o jornalismo investigativo e opinativo.
Sua passagem pela Editora Abril foi seguida por um novo desafio: a revista Istoé. Nos anos 1970, Carta novamente emprestou seu talento para o lançamento de um veículo que competiria diretamente com a Veja. Na Istoé, ele buscou aprimorar o modelo de revista semanal, com foco em uma abordagem ainda mais crítica e independente, posicionando-a como uma alternativa com linha editorial distinta. A experiência de Mino Carta foi vital para a consolidação da Istoé no competitivo mercado de revistas de notícias.
No entanto, foi com a CartaCapital que Mino Carta consolidou sua marca mais pessoal e duradoura. Lançada em 1994, a revista representou a culminância de sua filosofia jornalística: um veículo dedicado à análise política e econômica aprofundada, com um viés explicitamente crítico e um compromisso inabalável com a independência editorial. Em um cenário de crescente concentração midiática, a CartaCapital se estabeleceu como uma voz dissonante, oferecendo perspectivas contrárias ao mainstream e dedicando-se a um jornalismo que não temia confrontar o poder. A revista se tornou um baluarte para o jornalismo de opinião e para a defesa de pautas progressistas, refletindo a própria visão de mundo de Mino Carta e sua crença no papel fundamental da imprensa.
Ao longo de sua carreira, Mino Carta não foi apenas um editor ou fundador; ele foi um mestre, um provocador intelectual e um defensor incansável do jornalismo como ferramenta de reflexão e transformação social. Sua capacidade de antecipar tendências e de imprimir uma identidade forte em cada publicação que idealizou ou dirigiu é um testemunho de seu gênio. Seu legado transcende as páginas; ele reside na inspiração que deixou para gerações de jornalistas e na prova de que é possível construir e manter um jornalismo engajado e relevante. A imprensa brasileira é, sem dúvida, mais rica e plural por conta da ousadia e da persistência de Mino Carta.