São Paulo e suas regiões metropolitanas, tradicionalmente desafiadas pela criminalidade urbana, têm testemunhado uma aparente melhora em alguns indicadores de segurança. Nos últimos períodos, os dados oficiais apontam uma queda geral e significativa nos índices de roubo de veículos, um alívio para muitos que temiam a violência implícita nesse tipo de crime. No entanto, por trás dessa estatística encorajadora, emerge uma tendência preocupante e muitas vezes silenciosa: o crescimento do furto de veículos, com foco específico em automóveis antigos e motocicletas novas.
A distinção entre roubo e furto é crucial para entender essa dinâmica. Enquanto o roubo envolve a subtração mediante grave ameaça ou violência, o furto ocorre sem contato direto com a vítima, muitas vezes sem que ela perceba a ação criminosa no momento em que acontece. É nesse vácuo que os criminosos têm encontrado um novo nicho, explorando vulnerabilidades e operando com uma discrição que os torna mais difíceis de rastrear e combater.
Dois tipos de veículos se destacam nesse cenário de furtos silenciosos. Primeiramente, os **carros antigos** – verdadeiras relíquias para seus proprietários e peças valiosas para colecionadores e entusiastas. O furto desses clássicos não é aleatório; ele é motivado pela alta demanda por peças originais e pela possibilidade de revenda do veículo, muitas vezes descaracterizado, em mercados paralelos. Garagens residenciais, estacionamentos de eventos e até mesmo oficinas especializadas tornam-se alvos. A operação é meticulosa, envolvendo desde a clonagem de chaves e o uso de guinchos disfarçados até a desativação de sistemas de alarme mais antigos. A perda de um carro antigo é particularmente dolorosa, pois envolve não apenas o valor monetário, mas também um profundo laço afetivo e histórico.
Em paralelo, observa-se o aumento do furto de **motos novas**. A liquidez do mercado de motocicletas e a facilidade de desmonte e revenda de suas peças tornam esses veículos um alvo atraente. Motos recém-saídas da concessionária ou com poucos anos de uso representam um retorno rápido para os criminosos. O modus operandi varia: desde o arrombamento de estacionamentos e garagens coletivas até a ação rápida em vias públicas, aproveitando momentos de distração dos condutores ou de estacionamento temporário. A agilidade das motos, paradoxalmente, as torna tanto ferramentas de fuga quanto alvos fáceis para furtos ágeis.
Esse “furto silencioso” representa um desafio diferente para as autoridades e para os próprios cidadãos. A ausência de violência direta pode levar a uma subnotificação ou a uma percepção de menor gravidade, embora o impacto financeiro e emocional para as vítimas seja imenso. Além do prejuízo individual, essa modalidade alimenta uma robusta cadeia de comércio ilegal de peças, que sustenta outras atividades criminosas.
Diante desse cenário, a prevenção torna-se uma ferramenta essencial. Proprietários de carros antigos são aconselhados a investir em sistemas de segurança avançados, rastreadores e a garantir o armazenamento em locais monitorados. Para os donos de motocicletas novas, a recomendação é utilizar correntes reforçadas, alarmes sonoros e, sempre que possível, estacionar em locais bem iluminados e com grande fluxo de pessoas. A conscientização sobre essa mudança no perfil criminal é vital para que a população e as forças de segurança possam adaptar suas estratégias, transformando a queda geral no roubo em uma vitória completa contra a criminalidade veicular, independentemente de sua natureza.