UE: Impasse França-Alemanha adia banimento de combustão e multas bilionárias

A União Europeia enfrenta um entrave crítico em sua agenda verde: uma divergência entre França e Alemanha ameaça adiar para 2026 a revisão de regras que podem banir motores a combustão a partir de 2035 e impor multas bilionárias. Este impasse desafia a unidade da UE na descarbonização, com vastas implicações para a indústria automotiva e o futuro da mobilidade. O pacote legislativo “Fit for 55”, pilar da estratégia europeia para a neutralidade climática até 2050, previa o fim da venda de novos carros e vans a combustíveis fósseis a partir de 2035, visando a eletrificação e descarbonização do transporte. Essa fissura entre as maiores economias do bloco agora põe em risco a implementação crucial.

A Alemanha, sob pressão de sua poderosa indústria automotiva (Volkswagen, BMW, Mercedes-Benz), defende uma abordagem “tecnologia-aberta”. Berlim insiste que os “e-fuels” (combustíveis sintéticos neutros em carbono) devem ser considerados uma alternativa viável. A preocupação alemã é preservar sua engenharia, manter empregos e diversificar tecnologias, caso a infraestrutura de carregamento elétrico não avance. Um banimento total sem e-fuels seria prematuro e restritivo, argumenta Berlim.

Em contraste, a França, também uma potência automotiva (Renault, Stellantis), alinha-se mais com o banimento efetivo do motor a combustão, focando na eletrificação. Paris vê a eletrificação como o caminho mais direto para a descarbonização e teme que uma exceção para os e-fuels dilua a ambição climática da UE e atrase a transformação industrial. A posição francesa busca consistência na política ambiental e clareza para o mercado.

O adiamento da revisão para 2026, inicialmente prevista para 2024, gera incerteza para as montadoras. Empresas que já investiram bilhões em veículos elétricos, baseadas no cronograma de 2035, enfrentam um limbo. Uma possível mudança ou brecha para os e-fuels pode forçá-las a reavaliar planos e atrasar a transição. As multas bilionárias por não atingir metas de emissão continuam a pressionar por uma direção clara.

Este impasse também mina a credibilidade da UE como líder global no combate às mudanças climáticas. A incapacidade de suas maiores nações em concordar sobre uma política central de descarbonização sinaliza fraqueza e indecisão.

Para a busca de um consenso, exige-se um delicado equilíbrio entre ambição ambiental, competitividade industrial e pragmatismo tecnológico. A Comissão Europeia mediará a disputa, buscando um compromisso que satisfaça ambos os lados sem comprometer o objetivo de uma Europa neutra em carbono. A resolução dessa divergência determinará o futuro dos motores a combustão e a eficácia da governança ambiental da UE. O prazo de 2026 é um marco crucial para a descarbonização automotiva na Europa.